Confesso que ando meio nostálgica, desde o inicio do ano quando entrei no período mais difícil da minha vida e fui praticamente encaminhada à força para aprendizados dos quais só havia “ouvido” falar, digo isso literalmente, pois, sendo psicóloga, escuto dores da alma em seus mais variados níveis.
É inegável a ajuda terapêutica para superar um luto, já escrevi sobre terapia alguns posts atrás, e viver um luto é tão doloroso, dói tanto, que a única descrição que consigo pensar agora é a de que somos cortados a sangue frio para arrancar nosso coração. Terapia neste momento é o analgésico para ser usado no pós-operatório.
Continuando nesta linha de pensamento, entendi que apesar de todo o benefício do tratamento, algumas tarefas só podem ser cumpridas pelos amigos, só por eles e por ninguém mais.
Conto nos dedos de uma única mão as amigas que tenho, e irão sobrar dedos, falo de pessoas que estão comigo, como testemunhas da minha existência há mais de vinte anos e com elas sou exatamente o que sei ser e o que gosto de ser, não tem postura profissional, não tem máscara social nem preciso ficar à margem para expor qualquer opinião a respeito de nada, sou o que sou e é recíproco o sentimento delas com relação a mim também, elas foram o colo, a mão, o alimento, e as lágrimas compartilhadas quando vivi o dia mais triste da minha vida. Estavam lá comigo, estavam lá por mim.
Amizades precisam de tempo, elas amadurecem junto com você, não dá para ter “um melhor amigo” em um mês, é preciso haver situações pontuais na sua vida, coisas importantes boas ou ruins, elas servem como peneiras, funis e portas de ferro, o amigo dará um jeito de passar por todas, ele chegará junto com você, ou talvez até antes, a tempo de dizer: “Não vá por aí!” ou “Fique calmo, estou com você!”
Só ele tem o direito de apontar o dedo, de dar uma “prensa” ou dizer que está errado, ele vai achar um jeito de fazer isso, por que te conhece e sabe exatamente por onde ir e como deve ir para chegar até você do jeito certo, nossos amigos de verdade tem nosso mapa na palma da mão e dentro do coração!
Amigos compartilham você, com tudo o que você é, é o ser que te escolhe, que te ama apesar do mau humor, apesar da carteira vazia, te agüenta resmungando e ainda encontra razões para te amar. Te acorda para a prova, vai junto na consulta difícil e liga para saber se tomou o remédio, é capaz de dizer que esta roupa ou corte de cabelos não ficam bem em você, sabe exatamente qual presente você quer de aniversário e escreve o cartão mais lindo do mundo dizendo o quanto gosta de você, divide o melhor perfume e quando viaja te traz aquela lembrança que tem tudo a ver com esta amizade.
Por outro lado, é verdade quando dizemos que é na hora da dificuldade que realmente conhecemos os amigos, meu coração doeu demais quando percebi esta realidade, tanta gente sumiu de mim, esperei em vão, como criança esquecida na escola, que alguns deles viessem me buscar do abandono que senti. Não vieram, e fiquei ali na calçada da vida tentando entender o por que do esquecimento. Ok, já superei isso. To bem!
Essas ausências abriram espaço para pessoas lindas que estou conhecendo, com uma história de amizade tão rica que me inspirou a escrever sobre este sentimento que preenche nosso céu de luz quando estamos no escuro.
Conheci estas pessoas através de uma amizade recente que iluminou meu coração na presença, no afeto e atenção dispensados nestes últimos meses, minha gratidão, amor e admiração crescem a cada dia, obrigada amiga, por ser você tão linda, e por trazer este raio de sol que me aquece e ilumina!
Dois meninos se conheceram na escola primária, provavelmente na pergunta de algum deles de: “Você quer brincar comigo?” A amizade cresceu com eles, com o mesmo numero de aniversários e experiências, irmãos de vida, reconhecidos na infância, e aproximados pelo destino. O tempo, as escolhas e a própria vida foi trazendo outros companheiros de jornada, eles viveram a adolescência, namoros, formaturas, casamentos juntos, um casou na sexta o outro casou no sábado, para que um pudesse compartilhar da felicidade do outro.
Esta amizade, foi recebendo reforços de igual quilate em peso e medida, sabe aquelas pessoas que aparecem na vida da gente apenas para cumprir alguma coisa e depois vai embora? Então, este foi o caso, alguém namorou uma menina que apresentou algumas pessoas, o namoro não deu certo, mas as amizades sim e eles nunca mais se separaram.
São a família escolhida, são os irmãos de vida, vale dar bronca, sermão, e abraço, vale dizer “te amo” e na hora da dor, vale não dizer nada. Vale chorar de felicidade ou de tristeza, vale estar ao junto no nascimento do primeiro filho, vale dar a noticia difícil por que só você poderia fazer aquilo, vale dar de presente uma viagem sonhada só para ver o sorriso no rosto que há pouco tempo chorava por causa de uma perda difícil, vale o compromisso de toda sexta feira para jantar, por que família que se ama, come junto.
A foto que ilustra este post mostra dois amigos lindos, o da direita é meu afilhado, filho de uma amiga que é um dos dedos da mão que falei acima, ela e meus outros dedinhos saberão que estão aqui quando lerem, pois, cada uma delas foi protagonista dos exemplos que citei e esta é minha singela homenagem para estas irmãs de vida. Amo vocês!
Quanto à história que contei depois, bem... O que posso dizer?
Talvez repetir o que crianças fazem quando percebem que no grupo de lá tem mais aventuras e brincadeiras do que no grupo de cá, elas param, ficam olhando, tomam coragem e perguntam: “Posso brincar aqui com vocês?”
Vai que dá certo e a brincadeira fica melhor ainda não é? Não custa tentar, afinal, ter amigos é bom demais!
Abraço carinhoso,
Cris.