terça-feira, 23 de novembro de 2010

7 - Aswan

Vôo tranqüilo e rápido. Encontramos na chegada, o guia que vai nos acompanhar em Aswan e depois pelo cruzeiro.
  Abdul é um senhor que deve ter algo entre os 50 e 55 anos, de mais ou menos 1,80m, óculos bem grossos, maneiras gentis e muito educado.
 Quando entramos na van, encontramos duas caixas com lanches, precisamos comer no carro por que não teremos tempo de almoçar.
Enquanto vamos ao primeiro ponto turístico começamos a lanchar, Abdul se apresenta novamente, falando um espanhol perfeito e nos dá as boas vindas ao Egito, desculpa-se pelo inconveniente de termos que comer no carro e pergunta se pode começar a falar sobre o ponto turístico que estamos indo. Quanta diferença!

Tudo certo. “Claro que sim” eu respondo e então tecnicamente começamos a viagem de turismo.

Paramos em um lugar onde se via homens da policia armados, ele explica que estamos em High Dam, uma barragem construída em conjunto com a União Soviética a fim de controlar as cheias do rio Nilo. Realmente uma obra muito linda, mas quando finalmente descemos do carro percebemos o que é sentir calor.

Estava seguramente um calor de 45º, mais tarde perguntei ao Abdul e ele confirmou, o ar é quase imperceptível. O sol queima de doer na pele, a cabeça ferve, por que até o cabelo parece que vai pegar fogo, ficamos indecisas entre voltar para a van correndo ou acompanhar o guia que tão gentilmente se esforça em explicar e contar a história desta magestosa construção.
 Fazemos algumas fotos, e ao encostar no muro para me apoiar fiz uma queimadura no calcanhar, levantou bolha depois, imagina só!






Estamos indo agora para o Templo de Philae, que imaginei ser algo dentro da cidade de Aswan, engano, este templo fica numa ilha.
Ele foi totalmente desmontado do lugar original e reconstruído na ilha de Agilika, por causa da construção da represa.
 O carro estaciona em um porto cheio de pequenas embarcações, Abdul escolhe um barco para fazer a travessia e assegura-se de que eu e Priscila entremos em segurança.

O mito egípcio reza que quando Seth assassinou seu irmão Osíris, retalhou seu corpo e lançou pedaços ao longo do Nilo. Isis, esposa de Osíris percorreu o Egito procurando as partes do corpo de seu marido para ressuscitá-lo, e haveria encontrado na distante ilha de Philae o coração de seu amado.
Este templo foi erguido então para o culto de Isis que é uma referencia ao amor também.

Apesar do calor o percurso é bem agradável, a vista é maravilhosa, penso neste momento o quanto sou uma pessoa de sorte por estar vivendo algo assim, na verdade, o barqueiro, um senhor de aparência humilde que veste uma túnica de tecido leve, colabora com este momento fazendo exatamente o que ele faz bem, que é navegar em segurança.

A proximidade com a ilha é um momento mágico!



 É possível avistar parte do templo que se ergue dourado pela cor das pedras e refletindo o sol que nesta hora da tarde é bastante intenso.
Imagino este caminho sendo feito pelos adoradores de Isis enquanto ancoramos para descer.

O local tem poucas pessoas, então é possível caminhar tranquilamente enquanto ouvimos as explicações de Abdul, as fotos ficaram lindíssimas, a iluminação ajuda, os locais são fantásticos e o fato de não estar cheio é melhor ainda.

Assim é possível imaginar a aura de culto deste lugar, gosto de fazer este exercício, o de imaginar as coisas acontecendo na época, fico pensando como eram, o que faziam e principalmente o porquê faziam, sou curiosa por natureza. Finalmente Abdul começa a ficar muito feliz por que neste lugar fiz muitas perguntas a ele.

Então ele explica que no século V, por fim, foi ordenado o encerramento do culto de Isis, e a ilha foi colonizada por um assentamento de cristãos, convertendo o antigo templo em igreja, e desfigurando boa parte das imagens de deuses e faraós da antiguidade.
Em um dos bem preservados relevos no interior do templo, há uma cena bastante intrigante, em que Isis amamenta seu filho Horus, sentado em seu colo, uma cena muito semelhante às pinturas da Virgem Maria alimentando o menino Jesus.





Terminamos este passeio muito cansadas, a mochila agora está pesando 20kg e a bolsa 10kg, minha máquina de fotografia é uma Cannon profissional que fica pendurada no pescoço. Até ela está especialmente pesada, no entanto tenho a certeza de que o dia está muito bom apesar do calor, e sinto pela primeira vez uma animação inexplicável por estar onde estou.
 Ao chegar no barco percebemos mais dois barcos cheios de turistas atracando, tivemos sorte sim, as fotos deles estarão cheias de desconhecidos, as minhas não, e esta idéia me deixou muito feliz.

Deixamos vagarosamente para trás a o Templo de Philae, e enquanto o barco se afasta fico observando as pessoas chegando e caminhando por lá, em pensamento desejo a eles a mesma emoção que senti, não sei por que, tive muita simpatia por este lugar, talvez seja por que tenha sido o primeiro templo que visitei, e o primeiro templo a gente nunca esquece!
O próximo lugar a visitar se chama “Obelisco inacabado”. Fico pensando se teremos que caminhar muito embaixo daquele sol escaldante! A ficha ainda não caiu.

Descemos perto do local e novamente temos que carregar as bagagens pequenas, pois, ficam dentro do carro apenas as malas.
 Minha mochila para este passeio deve estar agora com 30kg, minha bolsa também está pesadinha, ao total devo estar com a sensação de carregar uns 40kg de coisas num calor de 45º, moleza para um camelo, mas para uma branquela como eu, desacostumada com este calor, comecei a passar mal só de pensar.

Realmente o lugar é lindo!  Fica em uma pedreira de Aswan, existente a 3 mil anos! Este obelisco mede 43 metros de altura, e 1.168 toneladas de peso, sem relevos foi deixado inacabado no seu sítio original em uma das pedreiras de Aswan, provavelmente por apresentar algum defeito, ele está ainda incrustado na rocha, deitado e com uma rachadura aparente, ao ser descoberto, os pesquisadores puderam entender e estudar como eles eram construídos, e mais uma vez dar créditos a este povo que desenvolvia técnicas e ferramentas para construções tão magníficas.

          Obelisco inacabado, nós acabadas, a rachadura e parte da rampa

O lugar está cheio de turistas, todos com chapéus, bonés, lenços na cabeça, e as duas tontas sem nada!
 Caminhar parece algo cada vez mais difícil naquele calor, vai embora toda a vontade de tirar fotos, o instinto é de sobrevivência! A Pri começa a sentir-se mal, e para observar melhor o obelisco é necessário subir uma rampa que neste momento parece alta e inatingível. Na verdade nem é! Hoje olhando as poucas fotos que fiz percebo que é uma rampinha de nada. Será que miragem é isso?

Quando finalmente chegamos ao alto é que se percebe a grandeza desta obra, realmente é muito bonito! Isto até anima um pouco, Abdul é detalhista nas explicações e percebo que fica esperando perguntas, me esforço para pensar em algumas, até consigo, mas acho que ele percebeu pelas nossas feições vermelhas e ânimos desmoronados que simplesmente não agüentamos mais.
Paramos para descançar e começamos a voltar para o carro, Abdul caminha na frente com o passo firme, eu e a Priscila caminhamos atrás quase arrastando, não sei o que é pior, se é continuar caminhando ou se é desmaiar, cair e fritar na pedra, optei por continuar caminhando.

Chegar ao carro é sempre um momento muito feliz, por que o ar condicionado dá uma boa revigorada, mas entramos com o cérebro derretido e a língua ressecada, não há o que falar, queremos ÀGUA!
Percebemos neste momento o quanto este liquido precioso vai fazer parte desta Jornada.

Abdul nos leva a uma loja de papiros, muito bonita, após as explicações e demonstrações de como se faz um papiro podemos escolher e comprar algum, bem... Não dá pra ir ao Egito e não trazer papiro! Escolho um bem bonitinho com a árvore da vida e os nomes meu do Ronaldo e do Victor escritos em hieróglifos, o da Pri também é legal. Os preços é que não são.

Os passeios do dia já estão completos, agora vamos a outro porto, e em outra embarcação à vela que se chama Feluca,  seguir até onde está ancorado o navio que vamos passar as próximas três noites.
 Neste momento o sol está se pondo e ouve-se o chamado de uma mesquita convocando para a quinta oração do dia. Abdul pede licença e diz que não devemos chamá-lo ou falar com ele, pois ele estará em oração, sendo assim, ele lava os pés, as mãos e o rosto nas águas do rio, dirige-se à proa do barco e começa as orações em silencio.
 É muito bonito testemunhar esta demonstração de fé, penso em mim. Será estou reservando tempo para Deus? Me questiono profundamente, e chego à conclusão de que não! Não estou sendo devota, não estou colocando minha fé no lugar que ela merece. Preciso melhorar isso!
Fico admirando este senhor, com a cabeça baixa, de olhos fechados e murmurando a oração, senti que aquele momento era especial!

Navegamos calmamente pelo Nilo, de um lado Abdul em oração, de outro o barqueiro que tem o olhar ao longe. Creio que apesar de fazer isso todos os dias, ele ainda sente emoção e encantamento, pois a sua expressão reflete uma paz contagiante enquanto arruma as velas e segura o leme.




                                                        Aswan é dourada

O sol está começando a repousar entre o vermelho e o dourado produzindo luzes maravilhosas nos reflexos da água! O silencio é imperante, e enquanto vamos navegando percebo a importância deste rio para este povo.
 Às margens tem pessoas pescando e crianças brincando, há outras Felucas navegando como a nossa, tudo gira em função dele, exatamente como há séculos atrás, fiquei encantada com esta cena, a Pri também está pensativa e imagino que esteja sentindo o mesmo que eu.
É um momento de adoração e completa entrega, realmente uma manifestação do divino de forma plena. E nós estamos lá, participando deste momento, agradeci por isso!

Fiz algumas fotos deste entardecer, e os “clicks” da máquina são os únicos sons a quebrar o silencio, neste momento a Pri me lança um olhar daqueles do tipo: ”Pare!”
Com outro olhar respondo: “Não dá amiga, sinto muito”, as fotos ficaram maravilhosas, mas elas serão apenas um resumo deste momento, por que os registros mais lindos mesmo fiz com o coração! E estas serão sem dúvida, algumas das fotos mais especiais que estarão por lá!
  Não pude resistir, e fiz uma foto que sempre faço nas minhas viagens com a minha companheira.

                                                        Uma Havaina no Nilo

                                                           O Nilo em Aswan

                                                               Nós no Nilo

                                                                 Abdul e eu


Depois de alguns minutos, chegamos. Descemos do barco realmente cansadas, mas muito felizes.
Interessante é que os navios estão ancorados um ao lado do outro, e para chegar ao nosso, tivemos que atravessar três deles passando pelas portas interligadas, incrível a perícia de colocar as portas coladas umas às outras.



 Abdul usa um tom muito sério ao nos advertir que em hipótese alguma devemos sair sozinhas do barco, para nada! Devemos sair somente acompanhadas por ele.

 Muito bem! Concordamos e nos despedimos, ele também estará no cruzeiro, é só chamar.
 O motorista da van já havia levado nossas malas para o navio, portanto quando chegamos fizemos o check-in e fomos para a cabine. 

Nosso cruzeiro vai começar.

Nenhum comentário: