quarta-feira, 24 de novembro de 2010

8 - M/Y Mirage - Primeira noite

                               M/Y Mirage, nossa casa por três dias

  O dia foi cheio de novidades, muito sol e uma prévia do que estava por vir no que diz respeito ao calor, penso que preciso me acostumar com a idéia de que esta será nossa realidade por estes dias.
A cabine é confortável, na entrada à direita está o banheiro que apesar de pequeno tem um bom espaço na pia e até uma banheira.
Há duas camas grandes, um espelho ótimo e uma cômoda bem espaçosa.

Sabemos que o jantar será a partir das 20hs, desta forma teremos tempo para descansar um pouco, tomar banho para depois comer. Começamos a abrir as malas e a comentar sobre o dia lembrando os lugares e principalmente sobre a diferença entre os dois guias que conhecemos.

Enquanto o Haissan tem um ar ansioso, irritante e até prepotente Abdul é justamente o contrário, é humilde, gentil e muito educado.
 Saímos para o jantar. E à medida que procuramos o restaurante estamos na expectativa para conhecer nossos companheiros de viagem.
 Na entrada do restaurante está o maitre que nos recebe falando em inglês, pergunta nossos nomes, de onde somos e nos encaminha para uma mesa onde já estão sentados um homem e uma mulher jovens.

Olho rapidamente em volta e vejo algumas mesas vazias, me pergunto por que será que ele nos colocou junto com este casal?

Somos apresentadas rapidamente. Sentamos eu e a Pri, uma de frente para a outra. As mesas são pequenas e bem próximas de forma que preciso fazer certos movimentos para não bater na mesa ao lado.
O garçom se aproxima e fazemos o pedido das bebidas. Após um cumprimento tímido para o casal ao lado comentamos o fato de termos que sentar junto de outras pessoas ao invés de estar em outra mesa só para nós.

Agora já acomodadas, recebo um olhar daqueles da Pri, e entendo que devo observar em volta. Ao fazer isso percebo que nós duas e o casal da nossa mesa, somos provavelmente as pessoas mais jovens de TODO o navio com exceção da tripulação. 
Entendi por que estamos nesta mesa afinal!

Sim, poderíamos dizer que éramos filhas ou netas de qualquer pessoa daquele navio, sem erro. Havia famílias, casais, grupos de amigos, pessoas sozinhas na faixa de 60 anos para mais. Todos muito simpáticos, animados, e nós.

Começamos a rir, acho que de nervosas, não sei, o fato é que nosso riso foi visto e encarado como algo simpático, quebrando a formalidade. A senhora da mesa ao lado perguntou de onde éramos, e a Priscila responde, imediatamente ela sorriu contando que adorava o Brasil e que já tinha ido ao carnaval do Rio de Janeiro nas férias. O marido também entra na conversa e um animado e descontraído papo fica cruzado entre nós quatro. Em inglês, quer dizer... Quase em inglês. Mais ou menos. Dava para eles entender.
O casal da nossa mesa apesar de simpáticos são mais reservados. Jantam, pedem licença e saem.

A comida é uma maravilha!  Fico feliz em perceber que o Buffet contém muitas saladas e pratos ocidentais além dos pratos típicos do Egito.
O maitre que nos recebeu, agora está servindo e muito simpático me chama pelo nome, pergunta se gosto de tomates. Sim, ele chama todos pelo nome e começa a servir o caldo que estava divino! Repeti mais uma vez e a Pri duas.

Após o jantar vamos para o deck das piscinas, é possível ver Aswan com as luzes da noite, é muito bonito. Encostado ao nosso, está o deck do navio vizinho onde observamos uma família.
Há duas mulheres, uma mais nova que segura um bebê e outra mais velha, ambas vestiam lenços e túnicas. Há também dois homens, ambos com idade para ser o pai da mulher mais nova. Não conseguimos identificar quem era o pai e quem era o marido dela.

A situação era interessante, por que nós olhávamos e eles também.

Eu e a Pri estávamos de vestidos curtos. E as mulheres com aquele calor, estavam de túnicas com mangas compridas e lenços. É possível que, assim como nós, elas também achassem muito estranho duas mulheres vestidas daquele jeito.
 Nós de vestidos curtos e elas de vestidos longos. Apesar dos olhares disfarçados, todos nós estávamos sendo observados, de lá e de cá. Olhares curiosos, não ameaçadores, mas definitivamente assim como eu e a Pri, provavelmente elas comentaram entre si o mesmo que nós:
- Como elas pode se vestir assim?

Decidimos voltar para a cabine e dormir. Ligamos a televisão, rimos um pouco dos canais e começamos a nos preparar para descançar.

Nem percebemos, mas já estávamos navegando. Antes de dormir olhei pela janela e vi a paisagem das margens do rio se modificando.  A Pri já está no quinto sono. Coloco o celular para despertar e vou dormir também.

Acordei muito cedo e apesar de ainda estar cansada, não consegui mais voltar a dormir.
 Tomei banho, me vesti e peguei a câmera para fazer algumas fotos no deck das piscinas.

Ao chegar lá, encontro um japonês mais apaixonado por fotos do que eu, ele tinha uma parafernália de equipamentos montados em várias partes do deck, e cada hora ele montava a máquina em um deles. Fazia várias fotos ao mesmo tempo. Parecíamos dois malucos, por que eu fazia uma foto, ele ia atrás e fazia também, e vice versa. Ficou engraçado. Agente ia se cruzando e caminhando de um lado para o outro, hora ele me seguia, hora eu seguia ele.

                                                              Deck das piscinas

                                                                 Amanhecendo!

Ao voltar à cabine a Pri já estava acordada e fomos tomar café para depois começar os passeios do dia. Chegamos ao saguão com lenço, boné, chapéu e máquinas. Encontramos o Abdul e outros turistas também devidamente equipados com seus respectivos guias.

Quando o navio atraca, imediatamente entram policiais armados e fazem uma vistoria no navio, olho para fora e vejo mais policiais, assim como eu, todos ficaram assustados!

Pergunto em espanhol para o Abdul o que está acontecendo. Ele tenta ser o mais natural possível em explicar que é apenas uma medida de segurança para os turistas.

Insisto na pergunta. Ele responde então, que ha um tempo atrás houve um atentado onde alguns terroristas haviam atirado em turistas, e que a partir daquela data o Egito estava mais rigoroso com a segurança em todos os navios, ônibus e templos.
 Ele terminou de falar e virou de costas, certamente para não responder mais nada, nem correr o risco de que eu perguntasse mais detalhes. E era exatamente o que eu estava prestes a fazer.

Esta situação incomodou. Apesar dos policiais estarem ali para proteger, somos lembradas novamente de que: “O terrorismo é uma realidade vigente” Estamos em um país onde o risco de passar uma situação destas não está tão longe assim. É presente. É real!
 Penso que, assim que tiver oportunidade vou buscar informação sobre terrorismo no Egito. Deveria ter feito isso antes, mas...
As portas abriram, e recebemos cartões para devolver na volta do passeio, isso garante que ninguém entre clandestino em nenhum dos navios.

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