domingo, 13 de maio de 2012



 A conversa dos meus sonhos

Seria tão bom se nos fosse concedido, uma vez na vida em algum momento específico, uma conversa especial.
Se este pedido fosse concedido, certamente eu o usaria agora, por que somente agora tenho um assunto especial para uma pessoa específica.
Eu escolheria um dia que era sempre motivo de sorrisos e alegrias bem vivos na minha mente e coração, pois foi vivido várias vezes desde que mudei para longe, e o último agora à pouco, em Fevereiro. A situação se desenhava assim, eu ligava e dizia:
- Oi mãe! Tudo bem? Saudades querideza! O que você está fazendo?
A resposta vinha de acordo com o horário.
- Oi filha! Tudo bem meu amor! Estou lendo o jornal e você?
- To indo para o consultório mãe, deu saudades e resolvi te ligar!
Neste momento sempre ouvia uma risada, daquelas que as mães dão quando recebem um mimo de filho, sabe como é?
- Ah! Querida!  A mãe está com saudades também.
- Mãe! Como está o tempo aí?
- Ta frio, mas por que?
-Ah! Por que preciso saber se é para levar casaco!
Agora  vem a minha parte favorita:
- Aaai que bom você está vindo? Quando? Que horas? Coisa boa filha, mas que coisa boa! Então desde agora vou ficar aqui sentadinha te esperando, até a hora de você chegar.
Esta parte sempre vinha com risos, por que sempre perguntava como ela iria fazer isso, pois e o almoço? E o banho? E o jornal? E a saidinha para molhar a grama com a minha irmã?
Ela ria, ria e dizia assim:
- Eu paro de comer sem problema por que estou gordinha, o banho você me dá quando chegar e a saidinha para molhar a grama eu faço sentada mesmo por que aonde eu vou a cadeira (de rodas) vai também.
Risada de ambas! O tom alegre adicionava leveza para o dia de trabalho.
- Mãe to chegando no consultório falamos depois tá? Se cuida aí, beijo na Belinha (cachorrinha amada dela), te amo!
- Cristina! Espera! Tu esta dirigindo e falando no celular minha filha?
Apesar de já ter explicado mil vezes que estava falando no viva-voz a pergunta sempre vinha.
- Não mãe! Estou no viva-voz lembra? Já te expliquei que não precisa segurar o aparelho.
-Ah tá! Então vai, filha, fica com Deus, se cuida beijo a mãe te ama!
-Te amo mãe, fica com Deus também beijo!
Termina a conversa e um calor no coração alimenta minha alma. De uns tempos para cá, eu soube valorizar este momento, sentia a necessidade de ouvir a risadinha depois do: “Oi filha!” e por isso fazia um tempo que ligava todos os dias, no mínimo uma vez, às vezes três vezes para falar bobagens, comentar a novela, ou contar alguma besteira.
Hoje, especialmente hoje, se um pedido me fosse concedido, usaria este da conversa especial mãe! Por que desde que você se foi, o percurso para o meu trabalho só não tem sido vazio e solitário, por que agora ligo para a Vanise, o que é ótimo, este hábito de entrar no carro e te ligar precisava encontrar um correspondente, mas quantas saudades da tua voz!
Passei vários dias, muitos mesmo, pensando no que eu diria se pudesse estar com você para esta conversa, treinei, falei coisas sem importância, tentei ser poética, busquei um tom mais sério e não deu certo, principalmente por que estaria fugindo do que eu sou.
 Não sou nada disso, nem séria nem poética, sou apenas esta filha meio estabanada, às vezes esquecida e muitas vezes atrapalhada em algumas coisas, mas que segundo a tua opinião, bagunçada por fora e organizada por dentro.
Pensei que seria importante pedir perdão por algumas coisas, tenho certeza de que fiz coisas que te magoou, te deixou triste e te fez chorar, e por isso, desculpa mãe, desculpa mesmo, foi burrada daquelas que a gente faz e só se dá conta depois, mas julga que se tem tempo para desfazer, e eu não sei se tive este tempo.
Daí lembrei que, quando por algum motivo me sinto triste por algo acontecido com meu filho, aquilo dura segundos, e depois tudo volta a ser como antes, por que coração de mãe é isso mesmo, não fica segurando as coisas por muito tempo, e me senti melhor, mas sei também o quanto é bom quando os filhos voltam e se desculpam, eu fiz isso com você, me desculpei mas já estava saindo e não vi como isso ficou depois.
Enquanto estava treinando a conversa, lembrei do dia em que passamos rindo desde a hora do almoço, por que, de brincadeira fiz a boca da Janete (do Zorra Total) e te chamei para comer, você encostou para trás e riu para valer!
 Rimos uma da risada da outra, e quanto mais eu falava daquele jeito, mais você ria e eu ria de você rindo de mim! Esta gracinha preencheu nosso dia inteiro!  Quase não conseguimos comer por que a risada vinha espontânea e aos montes, fazendo a gente cuspir o macarrão lembra?
Você dizia: “Como você me faz rir!” Essa memória tem me confortado ultimamente.
Mas meu treino não deu muito certo, tudo isso são lembranças que agora vem no kit da enorme saudade que sinto de você, só agora entendo algumas coisas, e o fato de estar em frente a você me faz calar. Isso acontece por que entendi sentimentos e muitas vezes, estes são difíceis de verbalizar, as palavras não cabem.
Então resolvi que poderia falar o que aprendi com você, e tudo se complicou, por que a lista é enorme e precisaria um capitulo de algum livro, talvez aquele que você sempre pediu para eu escrever e eu sempre disse que não me sentia capaz.
Bobagem filha! Você dizia, escreve como você fala, é tão bom te ouvir e com certeza vai ser bom te ler!
Quanta coisa pude ser nos teus sonhos, bailarina, musicista, pianista, psicóloga, escritora, mãe e filha mais velha. Caminhamos juntas até meus cinco anos, e depois chegou minha irmã linda, eu já disse isso, mas vale dizer de novo: obrigada por ela tá mãe?
Você disse no dia da sua partida: “Fiquem juntas, por que quando eu for embora, vocês só terão uma à outra!”.
Ambas temos famílias lindas, nosso pai, três irmãos amorosos e presentes em nossas vidas por parte de pai, filhos lindos, maridos maravilhosos, tias, primas, cunhados, mas somente minha irmã é testemunha do que eu fui e vice versa.
Talvez esta conversa fosse muito longa e talvez você não pudesse ficar muito tempo, então pensei em algo que pudesse resumir tudo isso de forma simples e clara.
A conversa dos meus sonhos acabei de entender, não seria uma conversa, seria apenas uma declaração.
Eu ficaria em frente a você, te daria um monte de beijinhos daqueles que te fazia fechar os olhos e rir, ficaria um tempão abraçada e depois diria:

- EU TE AMO MÃE! Parabéns pelo dia de hoje minha querideza!

PS: A conversa dos meus sonhos quem sabe, seja o título do livro que ainda vou escrever tá? Beijo depois a gente se fala, fica com Deus mãe!



Nossa foto do dia das mães ano passado

3 comentários:

Anônimo disse...

Como mãe é tudo.... E o que dizer quando elas se vão ? A consciência de que ninguém nos aceitará e amará tanto quanto elas... A saudade da voz, dos gestos, do cheiro ! Mas elas nos ouvem, estejam onde estiverem ! E,com certeza, a sua estará rindo de seus beijinhos e achando ótimo seu repensar sobre a escrita do livro ! Um abração, amiga querida ! Fique com Deus !! Bj... Loreta

Tathinha disse...

Cris querideza!!

Sei bem a dor que sente e não qria... sabe, juro que não qria....mas Deus vem de mansinho e com um sopro leve muda o rumo dos ventos e nossa vida vira um furacão, choros, saudades e apelos. Também sei Cris, que com o passar do tempo, as lembranças ruins irão embora e somente restarão as lembranças boas que passamos ao lado de quem tanto amamos, mas que foram embora mais rápido que imaginávamos, a saudade e a vontade de que estivessem aqui vai permanecer sempre. Apenas quero que a tristeza não esteja presente o tempo todo, assim, podemos voltar a ser feliz como antes, pois dessa forma estaremos dando oportunidade de preencher o vazio que a ausência de alguém tão importante deixou...

Cris disse...

É sim TaThinha...entendo que o tempo apenas ele poderá dar conta disso...por enquanto estou assim...meio lá meio cá. Obrigada por suas palavras, beijo enorme!