quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Um conto de Natal


O dia começou comum, e desde o momento em que abriu os olhos ela já sabia qual seria o movimento seguinte.

Levantar, fazer xixi, escovar os dentes, tomar banho, escolher uma roupa qualquer, tomar o café com o pão de ontem e sair.

Um pouco antes de levantar-se da mesa com a mesma toalha da semana anterior, pensou se hoje, só hoje, algo poderia ser diferente, e ficou assim com o olhar parado por alguns segundos, fixando um ponto qualquer entre o teto e a parede da cozinha.

Nunca foi pessoa de devaneios, considerava-se rápida, prática e decidida, sempre achou que sonhos eram para os desocupados, sem compromissos ou para os artistas, estes sim podiam sonhar, por que tinham tempo para isso, mas não ela.

Levantou-se rápido, como que despertando de um pequeno transe e voltou ao quarto para buscar um casaco, o tempo não estava bom.

O emprego de faxineira em uma padaria não era lá grande coisa, mas pagava o aluguel do pequeno quarto e sala, e ás vezes ao final do mês, sobrava um troco para uma besteirinha qualquer.

Mas este mês não sobrou nada.

O caminho entre o quarto e a porta de saída era feito através de um pequeno corredor, que tempos atrás enfeitou com alguns retratos de família e a imagem de sua santa de devoção a Nossa Senhora das Graças.


 Levara bastante tempo organizando de forma metódica as fotos para que estivessem cronologicamente corretas.

 Esta tarefa foi seu passatempo por vários dias.

 Ficou até triste quando terminou, mas pelo menos agora,  as fotos haviam saído da caixa de sapatos e finalmente estavam com alguma dignidade,  apesar de estar triste estava também satisfeita por ver sua história ali, resumida em pequenas fotografias expostas como janelas de um passado que por vezes ela sorria ao lembrar e outras a faziam chorar.

  Mas bem pouco, só um pouquinho mesmo.

Normalmente passava rápido por ele, quase sempre atrasada apenas com o tempo de pegar a chave em cima de uma mesinha pequena que fazia questão de manter com um guardanapo de crochê e um abajur de tulipa.

Estes dois objetos eram as únicas lembranças da mobília de sua mãe, foi o que conseguiu carregar quando foram jogadas na rua. Dia que não quer lembrar.

Passou pelo corredor um pouco mais devagar hoje, nem se deu conta, mas parou o olhar numa foto, outro pequeno devaneio e um segundo de memória a fez baixar os olhos.

Chega! Pensou. Chega mesmo!

Celine vestiu o casaco, pegou sua bolsinha pequena e a colocou atravessada como faz sempre, abriu a porta e saiu. Fez certo de pegar o casaco, pois assim que chegou à rua foi recebida por uma rajada de vento.

Fechou o casaco rapidamente, pegou um elástico e prendeu o cabelo, coisa chata é o vento fazendo o cabelo voar no rosto, pensou.

 Estando pronta, começou a percorrer em passos rápidos o caminho para o ponto de ônibus que por sorte a deixava a meia quadra do seu trabalho.


Continua...

Nenhum comentário: