Celine é bonita
apesar de aparentar mais idade do que realmente tem, é pequena, olhos
expressivos e “quase verdes” como
costuma dizer. Tem a pele branca e lisa, quase não pega sol e uma moldura de
cabelos realmente negros que ela insiste em manter preso.
Sua beleza
sempre rende elogios e quando alguém fala isso ela responde:” Sou comum!”. E
logo trata de mudar de assunto.
Sua vida não foi fácil até então, desde muito
pequena foi acostumada a enfrentar as coisas de frente, com apenas 12 anos ela
e sua mãe, já doente, foram despejadas da casa onde moravam por falta de
pagamento do aluguel, pegou o que pôde para colocar em uma mala pequena.
Ali estavam as
poucas roupas, algumas fotos, um abajur, um guardanapo de crochê e um pequeno espelho, na outra mão uma
mesinha minúscula. E assim a menina em apenas um dia cresceu alguns anos.
Penso que este
dia formatou na pequena, o olhar desconfiado e triste que ainda hoje traz
consigo.
Apenas duas
pessoas a fazem sorrir com leveza, seus amigos Aziz um jovem libanês e Louise,
companheiros de orfanato, amizade conquistada a cada dia pelos anos de
convivência.Vários foram os aniversários e natais compartilhados pelo trio,
comemoravam sozinhos e de mãos dadas sempre no primeiro segundo após à meia noite. São até hoje inseparáveis,
formaram sua própria família, chamam-se de irmãos.
Celine olha
para o relógio apreensiva, seu ônibus está atrasado, e levar bronca por chegar
atrasada não está nos seus planos para hoje, realmente não!
Se é algo que
funciona bem nesta cidade é o transporte público, muito estranho este atraso.
Confirma com uma senhora que também espera se ele realmente não passou, já se
conhecem de vista por que sempre pegam juntas a mesma condução e ela confirma
que não.
Ansiosa, ajeita
novamente o casaco, bate o pé algumas vezes e olha para a rua.
Finalmente algo
bom!
Dobrando a
esquina aparece Aziz em cima de sua inseparável bicicleta vermelha!
Lá vem ele com
um chapéu esquisito e o também inseparável cachecol amarelo, pedalando em alta
velocidade como sempre! Diariamente brincam para ver quem chega primeiro ao
trabalho já que ele é aprendiz de padeiro e faz entregas na mesma padaria, mas
hoje não dá para brincar, sem demora ela se joga na frente dele que se
desequilibra e quase cai.
- Tá maluca?!
Aziz fala com os olhos arregalados e já dando uma gargalhada!
- Aaai! Graças
a Deus! Carona Aziz! Não sei por que, meu ônibus está atrasado! Sem esperar resposta já vai se acomodando na
parte da frente da bicicleta, onde normalmente ele carrega as caixas de
entregas de pães e doces.
-Ah é? Hoje
quer carona! Ontem me deu tchauzinho da janela do ônibus, e ainda por cima com
aquele sorrisinho de lado, acho que não! Ele responde juntando as sobrancelhas grossas enquanto
finge arrumar o cachecol.
-Pára Aziz!
Vamos rápido, algo me diz que Berta hoje não está para brincadeiras, pedala!
Ele em seguida
ajeita a bicicleta para que ela se acomode melhor.
“É fácil
carregar Celine” - pensa Aziz - ela é bem leve, algumas encomendas são muito
mais pesadas do que ela com certeza!
E partem os
dois inicialmente fazendo zigue-zague até pegar equilíbrio, arrancando algumas
risadas de ambos já que ela precisa segurar-se com ambas as mãos e ele
discretamente faz uma careta, daquelas de quem fez algo de propósito. Sim ele sempre conseguia fazê-la sorrir, era
assim desde menino.
As ruas estão
cheias, e com toda força aquele pedal vai ganhando as ruas, sentiu até frio! Celine olha o relógio mais uma vez e
fica aliviada, vai dar tempo! Faltam apenas duas quadras, e dobram a última
esquina.
Surpresa quando
fazem a curva.
- Ooopaa!
Segura! Grita Aziz freando bruscamente, quase subindo a calçada e por pouco não
acerta uma carroça de cachorro quente, provocando um grito do vendedor.
Não fosse pelo
reflexo rápido e o aviso do amigo Celine teria sido arremessada longe, ou pior, teria dado de cara no carro parado em
uma rua que normalmente tem o trânsito fácil.
Que susto!
Fonte: parisvip.blogspot.com.br |
Celine
permanece sentada e agarrando tão forte na bicicleta que quase teve câimbra nos
dedos, sua bolsa veio para frente e a menina que já era branca agora parecia
uma cera de vela! Aziz fica em pé imediatamente tentando entender o que está
acontecendo.
O fluxo na
calçada também está lento, as pessoas assim como eles, buscam alguma resposta
para justificar este inusitado acontecimento, nunca se viu aquela rua assim.
Algo está diferente, os carros estão parados e
há um grande engarrafamento, a bicicleta consegue passar desviando aqui e lá, ele tenta subir novamente para pedalar, mas
acaba desistindo e começa a fazer o percurso empurrando com os pés bem devagar
para manter o equilíbrio.
Decidem descer
e terminar o percurso caminhando já que estão quase chegando.
- O que está
acontecendo ? Pergunta Celine. E observa o mesmo olhar de dúvida no rosto do
amigo.
- Não sei!
Estranho né? Aqui sempre tem movimento, ás vezes é devagar mas nunca ficou parado assim!
Estão chegando.
Aziz empurra a bicicleta pelo meio fio e
Celine caminha ao seu lado.
Na porta está
Berta, a gerente.
Ambos olham
para seus relógios, não estavam atrasados.
-O que ela faz
na porta? Pergunta baixinho com a boca torta para o lado - isso definitivamente
não é comum!
- Não é mesmo!
Responde Aziz entre curioso e espantado.
-Só há uma
maneira de saber – Celine dá uma ajeitada no cabelo a fim de parecer normal e
dá uma olhada de lado para Aziz, entendem-se desta forma desde crianças.
E ambos
apressaram o passo em direção à “ Bon Cookie de Bolangerie”
Continua...