Ontem fui visitar meu pai na cidade onde mora, fica a pouco mais de 200 km da minha casa, saímos pela manhã, e eu após uma noite mal dormida, acordei com areia nos olhos, típico de quem dormiu tarde e acordou cedo, fiquei aguardando a chegada do filho que foi para a balada e que eu “abalada” de preocupação fico assistindo filme e passeando pela net. To acostumando já.
Sou a que mora mais perto dele, e confesso não ser tão assídua nas visitas quanto gostaria de ser, vou melhorar isso!
Enquanto a estrada aparecia pela frente, vinham também memórias interessantes. Viajar é a palavra que define minha infância e adolescência, incontáveis vezes colocamos malas, cachorro, lanches e brinquedos bem acomodados no bagageiro para sair por aí a fora.
O banco de trás era dividido milimetricamente pela metade, minha irmã e eu nesta época éramos peritas em distrair nosso pai com as brigas, tudo era motivo, o espaço do banco, a janela aberta, as balas que eu insistia em comer a mais do que ela (rsrs), e ela a soltar o choro com toda a força dos pulmões!
Com nossa mãe viajava uma colher de pau, e quando a coisa ficava difícil ela voava aquela colher para todo lado, para cima e para baixo, em ziguezague e azar de quem estivesse no lugar errado e na hora errada, a idéia não era acertar, mas de vez em quando ela pegava em cheio... E entre sustos e risos tudo se acalmava.
Fonte: Google |
Eu sorri, mas meu o coração chorou. Quanta saudade meu Deus! Coloquei os óculos escuros rápido, pensamentos são flechas velozes.
Estou indo visitar meu pai, ele fará 83 anos no próximo dia 6 e neste dia não estaremos juntos, ele resolveu viajar. Ok ele pode o que quiser.
O dia esta bonito na serra, que cheiro bom este de mato com estrada, do tipo que fica melhor com sol, a infância veio e voltou, o riso e o choro se alternaram e a máquina do tempo esteve ali, comigo dentro.
Chegamos para o almoço, a porta aberta traz o sentimento bom de estar sendo esperada, só na casa dos pais sentimos isso, esta volta ao que sempre foi, mesmo já tendo percorrido tanto, transforma o momento presente em algo infinito, não há como explicar o passo a passo, voltamos aos cinco, aos dez, aos trinta e tudo se junta no abraço que permanece o mesmo 47 anos depois.
O almoço está delicioso, conversamos amenidades, meu marido e ele falam de futebol, do tempo, eu e a esposa dele trocamos receitas, tudo junto em conversas cruzadas, é assim mesmo, e todo mundo se entende.
Ficamos na mesa eu e meu pai falando sobre Deus, religiões, bíblia, internet, papo bom de entendimento, de algumas coisas discordo, outras deixo como estão e outras concordo plenamente, os minutos correram! Sim, apressou-se, tenho certeza!
Aviso que precisamos ir e ele busca um DVD de tangos, sabe que eu gosto, e fala:
- Para ti filha!
Voltei no tempo novamente, no dia em que ele e minha mãe dançavam um tango, na verdade ganharam um concurso, e a máquina fechou-se novamente comigo dentro! Outra vez a saudades arremessou sua flecha e me acertou em cheio! Fui mais corajosa desta vez, segurei o choro legal, quantos músculos serão necessários para isso? Devem ser muitos, por que doeram de verdade.
Respondi com um sorriso:
- Que lindo pai! Este eu não tenho, vou adorar com certeza! Obrigada!
Ele está sorrindo, talvez tenha lembrado este dia também, milésimos de segundos passaram e o abracei novamente, olho no olho seria difícil agora.
Despedimos-nos, agradeci o almoço, outro beijo e abraço e as recomendações de sempre:
- Boa viagem, não corre na estrada e liga quando chegar tá?
- Ta bom pai! Pode deixar!
Começo então a caminhada pelo corredor de saída.
- Filha!
Viro para trás e o vejo com um sorriso largo a estampar seu rosto.
- Foi muito bom conversar contigo!
Sorri também ao responder:
- Eu também adorei pai!
Apertei o botão imaginário da minha máquina, temos este poder, congelei esta frase com este sorriso, acomodei o coração de mansinho, bem devagar, para apenas registrar o que foi sentido.
Aprendi algumas coisas de março para cá, e uma delas foi a de valorizar os momentos de afeto com toda minha força, entendi que quero tudo! Quero o olhar, a palavra o abraço e o DVD, quero o futuro e quero o agora, minha máquina do tempo tem um arco e uma flecha dentro, elas são minhas e as uso o quanto puder sempre que quiser.
O tempo é o senhor, é ele quem manda e apesar de viver o tempo como se ele fosse infinito, descobri que ele é infinito sim, mas apenas enquanto guardar o que amo, por que estarão sempre lá, descobri que o tempo é contraditório também, pois ele acaba quando queremos que ele fique!
Estamos na estrada novamente, a vida segue e é preciso fazer o caminho de volta.
Vivemos o tempo como se ele fosse infinito, e para mim certamente este momento, será!
Te amo pai! (Apertei novamente o botão Congela, bem na parte do meu sorriso!)
Bendito o tempo e o infinito!
PS: Esta frase era de um poema falado em uma novela.
2 comentários:
lindo mesmo, bjs Cris
Ronaldo Blotta
Cris perfeito! Quando vai transformar tudo isso num livro? Bjs Juliana Petri
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